Tomei uma decisão.
Resolvi viver a sinonímia de chacoalhar, a de sacudir-me. E
com o balançar do ato, livrei-me dos resquícios de desnecessidade que clamam
espaço para seguir comigo: um pensamento, um móvel, uma fotografia. Com
destreza, me desfiz de todos aqueles que com o balançar se despencaram pela
fragilidade de serem. Vi então, o
quão limpa e em ordem minha cabeça estava. Eu estou levando o melhor de mim, meus
caros.
Posicionei-me bem no centro da questão desta vez. Duas pernas
equilibram-se fincadas no solo. De pé. Relato que nos últimos tempos ergui uma perna
e a agarrei com minha mão direita, e depois com a esquerda, nunca em simultaneidade,
naturalmente. Refiz esse processo por todo esse tempo, confesso que sempre
havia um cotejo entre uma e outra. E eu
ali me contorcendo.
Quanta tolice! O máximo que pudera eu atingir era o equilíbrio
postural. Talvez, até chegasse longe com essa história arrastada, tudo indicara
ao ápice da montanha, sem oxigênio, ou seja, sem êxito, uma escalada inútil.
Somos de fato dotados de inabilidade para viver duas vidas
onde se transita só um corpo. Os compiladores são pobres iludidos, não quero
fazer parte desse time.
Quis ser egoísta, queria apertar o que sobrara de bom para
poder prosseguir com um nó quase que desatável, mas vi que como conseqüência viria
a dor. Então abri o coração dando espaço também ali, só na caixa de pensamento
é demasiadamente pragmático, nem sempre isso benéfico, porque quando olho para
minhas veias vejo sangue correndo, isso é sinônimo de vida, e os bons frutos
dessa dádiva tem que ser guardado onde há acalento.
Quero me doar um a um, mas de forma inteira, sem descaso.
Arrumei minhas coisas.
Os pés bem firmados no chão não significam estar presa a um lugar, mas sim ter a liberdade de flutuar sem perder o referencial. Men sana in corpore sano, livre de qualquer embaraço, é assim que tem que ser.
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